Seu orientador sugeriu você faça um estudo de caso para um trabalho acadêmico? Ou mesmo para seu trabalho de conclusão de curso, e por isso você está em dúvida de como fazer? Se liga neste artigo que passaremos todas as dicas para um estudo de caso perfeito!
Mas o que é um estudo de caso?
Muitas coisas aprendemos por convivência e observação. Pode acontecer, também, de, ao longo da faculdade, nunca pararmos para estudar conceitos com os quais lidamos diariamente. O conceito “estudo de caso” é um deles, por isso, vamos antes de tudo definir do que se trata. Charbel Jabbour, Prof. Assistente do curso de Administração da UFMS, explica que um estudo de caso é: “um procedimento metodológico que enfatiza entendimentos contextuais, sem esquecer-se da representatividade, centrando-se na compreensão da dinâmica do contexto real e envolvendo-se num estudo profundo e exaustivo de um ou poucos objetos, de maneira que se permita o seu amplo e detalhado conhecimento. O propósito de um estudo de caso é reunir informações detalhadas e sistemáticas sobre um fenômeno.” [1]Ou seja, você escolherá um caso particular e, por meio de observação e reunião de informações, fará uma interpretação científica do fenômeno escolhido para estudo. O propósito de um estudo de caso é reunir informações detalhadas e sistemáticas sobre um fenômeno e apresentar soluções a problemas ou hipóteses e teorias que respondam alguma indagação importante feita ao início da pesquisa.
Abordagem Quantitativa
Em metodologia científica, precisamos definir uma estratégia para a pesquisa, qual chamamos de abordagem. Existem a abordagem qualitativa e a quantitativa, e escolhemos uma ou outra de acordo com o objetivo de nossa pesquisa. Digamos que você estude Sociologia e queira fazer uma pesquisa sobre “Imigração na América Latina”. O tema é amplo, complexo e você não viajou toda a América Latina para colher dados de primeira mão a respeito. Você pode, então, fazer um trabalho descritivo com abordagem quantitativa, levantando dados de fontes bibliográficas importantes sobre o tema. Pois nosso objetivo é fazer uma pesquisa de levantamento de dados sobre problemas pouco conhecidos, difíceis de dar respostas conclusivas (porque controversos), usamos uma abordagem quantitativa.
Abordagem Qualitativa
Vamos supor, porém, que você estude Assistência Social e faça estágio numa Fundação que oferece cursos de línguas, documentação e encaminhamento empregatício para imigrantes em sua cidade. Você tem, então, uma oportunidade perfeita para fazer um estudo de caso com o que chamamos de abordagem qualitativa. Neste caso, por se tratar de uma pesquisa descritiva sobre um fenômeno particular, a abordagem qualitativa é a mais adequada, porque o ambiente estudado é a fonte direta de dados, mais que referências bibliográficas. Além disso, o pesquisador desempenha um papel ativo para a interpretação dos dados levantados. Também o processo de estudo, a duração e os meios são todos elementos-chave da investigação. Mas lembre-se: quanto mais elementos de abordagens diferentes houver em sua pesquisa, mais rica ela ficará!
4 tipos de estudos de caso
No livro “Estudo de caso: planejamento e métodos” [3], Robert Yin esquematiza quatro tipos de estudos de caso: os casos únicos, os casos múltiplos, os casos de enfoque incorporado e os casos de enfoque holístico. Em casos únicos, testamos uma teoria em situações extremas ou raras, e permitem pouca generalização. Os casos múltiplos, por sua vez, oferece um conjunto maior de casos com características semelhantes, possibilitando maior facilidade de generalização e indução de conclusões de casos particulares para conclusões gerais. Os casos de enfoque incorporado utilizam mais de uma unidade de análise, ou seja, fazem uma comparação de resultados para se chegar a uma mediania de resultados. Já os casos de efoque holístico, examinam do geral ao particular, ou seja, procuram analisar a natureza mais ampla do objeto de estudo.
Protocolo de estudo de caso
O estudo de caso, no entanto, não é uma interpretação subjetiva de uma experiência. É, antes de tudo, uma investigação científica, por isso deve seguir alguns critérios para adquirir confiabilidade na comunidade científica. Na Revista de Contabilidade e Organizações, G. A. Martins oferece a seguinte definição de protocolo: “O protocolo se constitui em um conjunto de códigos, menções e procedimentos suficientes para se replicar o estudo, ou aplicá-lo em outro caso que mantém características semelhantes ao estudo de caso original. O protocolo oferece condição prática para se testar a confiabilidade do estudo, isto é, obterem-se resultados assemelhados em aplicações sucessivas a um mesmo caso”. [4]
Passo a passo
Antes de tudo, defina uma questão do estudo de caso. Assim, você estará apto a olhar para o caso que você deseja estudar e entender qual é o seu objetivo principal para com ele. Depois, você precisa elaborar temas de sustentação teórica. Não queremos dizer, com isso, que você precisa criar uma teoria que explique o fenômeno estudado, mas que já conheça de antemão as teorias que se podem aplicar à tua pesquisa.
Roteiro de pesquisa
O próximo passo é entrar uma boa definição da unidade de análise, ou seja, o “caso” em si que você estudará. Aí sim, você estará apto a apresentar uma proposta de trabalho ou monografia que nos dê os dos instrumentos de coleta de dados. Você fará entrevistas, análise de documentos e observação do local. Tudo isso acontecerá dentro de um período de realização, de preferência longo, porque assim terá tempo de levar a cabo a pesquisa com qualidade. O local de coleta de evidências e, tão importante quanto, a obtenção de validade interna por fontes diretas e síntese do roteiro de entrevista.
Coleta de dados
Ainda segundo Godoy, “numa valiosa técnica de abordagem de dados qualitativos, podendo ser também utilizada para complementar informação obtida em outras fontes […] documentos de diversos tipos podem ser utilizados, visando a prover o pesquisador com dados complementares para a melhor compreensão do problema investigado”. Para se fazer a pesquisa com a metodologia do estudo de caso, será necessário coletar pessoalmente os dados. Em primeiro lugar, deve-se estabelecer um primeiro contato formal com a unidade de análise (empresa, instituição, comunidade etc). Aos representantes formais, você apresentará os objetivos da pesquisa, para que haja o estabelecimento de confiabilidade entre as partes e sua pesquisa seja o mais clara o possível. Assim, entre as partes se estabelecerá a definição de pessoas chaves para a coleta e observação de dados. Vocês estabelecerão, também, critérios para acesso à organização e aos documentos necessários. assim, você fará, então, a coleta das evidências e, por fim, a validação científica delas.
Levantamento de Hipóteses
A partir da análise de dados, conceitos, hipóteses e, possivelmente, até relações causais entre as variáveis dos dados coletados começam a surgir. O próximo passo desse processo é comparar sistematicamente o quadro emergente com as evidências de cada caso, a fim de avaliar quão bem ou mal ele se encaixa nos dados do caso. A ideia central é que os pesquisadores constantemente compararam teorias e o resultado obtido com os dados em direção a uma hipótese que se encaixa nos dados. Um ajuste é importante para construir uma boa teoria porque tira proveito dos novos insights possíveis a partir dos dados e produz um valor empiricamente válido enquanto teoria.
Comparando teorias
Uma característica essencial da construção da teoria é a comparação dos conceitos, teorias e hipóteses emergentes do seu estudo de caso com a literatura existente. Isso envolve perguntar o que entre seus resultados e as teorias já existentes é semelhante. Também envolve questionar o que está contraditório e por quê. Uma chave para esse processo é considerar uma ampla gama de literatura. Examinar a literatura que conflita com a teoria emergente do seu estudo é importante por duas razões. Em primeiro lugar, porque se os pesquisadores ignoram resultados conflitantes, a confiança nos resultados é reduzida. Por exemplo, os leitores podem assumir que os resultados estão incorretos (um desafio à validade interna) ou, se corretos, são uma exceção que foge à regra (um desafio à generalização). Segundo, e talvez mais importante, a literatura conflitante representa uma oportunidade. A justaposição de resultados conflitantes força os pesquisadores a adotar um modo de pensar mais criativo e capaz de quebrar o enquadramento do que eles poderiam alcançar. O resultado pode ser uma visão mais profunda da teoria emergente e da literatura conflitante, além de aprimorar os limites para a generalização da pesquisa de caso.
Exemplos de estudos de caso
1) Marketing
Na área de marketing, é possível escolher uma empresa específica e propor uma pesquisa sobre seus desafios de expansão. Outro tema também interessante é fazer uma abordagem acerca do marketing estratégico para o crescimento sustentável. Ou ainda sobre os desafios da digitalização de marketing para a empresa.
2) Administração
Em Administração, você pode escolher unidades de análise de diversos tamanhos e áreas. Desde os desafios da construção de uma startup, até os problemas internos de sistema de recompensa de uma pequena empresa. É possível também escolher, por exemplo, uma escola pública e trabalhar o tema da gestão educacional e o envolvimento da comunidade local naquela unidade de pesquisa.
3) Recursos Humanos
A área de comportamento organizacional e recursos humanos é sempre muito rica para estudos de caso. Considere que você escolhe uma empresa e gostaria de examinar qual é a relação entre tempo de comunicação de funções entre os colaboradores e tempo de execução das tarefas. Uma série de entrevistas seria necessária, além de análise de horários e documentos comprobatórios de resultados. Outra ideia, ainda, seria estudar, a partir de uma unidade de dados em particular, as condições das mulheres gestantes no Mercado de Trabalho, a fim de comparar se o que é dito na literatura geral sobre o tema se aplica (e com qual precisão) às condições das funcionárias da empresa escolhida para a análise.
4) Psicologia
Suponhamos que você curse e faça estágio em Psicologia. Seu estágio é com crianças autistas de uma escola de música. Eis uma chance de desenvolver um estudo de caso do estágio clínico supervisionado sobre as interações das crianças com a música no processo terapêutico e cognitivo-comportamental. Ou, ainda, que você trabalhe numa clínica de tratamentos para distúrbios alimentares e, ao longo dos anos, observou um determinado comportamento em comum com várias famílias de seus pacientes. É possível isolar tal comportamento, comparar as hipóteses levantadas com o que os teóricos da área oferecem e propor uma análise com base nos casos observados por você mesmo.
5) Educação Física
Em educação física, você pode fazer, por exemplo, um estudo de caso educação física e populações especiais. Ou, ainda, a relação entre a prática de exercícios físicos e a prevenção contra o uso de substâncias químicas. Ainda, caso trabalhe ou estagie numa academia, pode fazer um estudo de caso sobre o uso dos aparelhos de musculação de forma prejudicial à saúde e a supervisão necessária de um educador físico para que os frequentadores de tal academia usufruam das melhores condições e preparo físico em suas atividades.
6) Pedagogia
Você faz estágio numa escola e gostaria de fazer um estudo de caso sobre sua própria sala de aula? Além de ter os dados em primeira mão, ou, melhor, ser o produtor dos dados mais importantes da pesquisa, você poderá ter acesso direto às crianças e aos pais delas. Por isso, a fonte de pesquisa está muito mais próxima. O tempo de convívio também te permitirá comparar as teorias existentes na literatura com as questões que se apresentam por si no dia a dia em sala de aula. Experimente, por exemplo, constatar a diferença entre a aplicação de dois métodos distintos de alfabetização para duas turmas diferentes e de séries iguais.
Referências
[1] Jabbour, J.C. “Utilizando Estudo de Caso(s) como Estratégia de Pesquisa Qualitativa: Boas Práticas e Sugestões”, in: ESTUDO & DEBATE, Lajeado, v. 18, n. 2, p. 07-22, 2011.[2] MARTINS, G. A. Estudo de caso: uma reflexão sobre a aplicabilidade em pesquisas noBrasil. Revista de Contabilidade e Organizações, v. 2, n. 2, p. 9-18, jan./abr., 2008.[3] YIN. R. K. Estudo de caso: planejamento e métodos. 3 ed. Porto Alegre: Bookman, 2005.
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